Lendo uma coletânea de entrevistas feitas pela Clarice Lispector (“Entrevistas”, Editora Rocco), cheguei a conclusão que, pela pessoalidade, simpatia e conteúdo randômico mas certeiro das perguntas, Lispector sem querer inventou uma versão embrionária do Formspring (sem, é claro, cair naquela chatice pegajosa e autoenaltecedora de tipos como o Jô Soares).
Entre parênteses, ter um Formspring está no hall das coisas que me despertam sensações gostosas e maduras de rejeição e insegurança, tal como falar em público. Prefiro waterboarding.
NR: É a solidão.
CL: O que é o amor, Nelson?
NR: Eu sou um romântico num sentido quase caricatural. Acho que todo amor é eterno e, se acaba, não era amor. Para mim, o amor continua além da vida e além da morte. Digo isso e sinto que se insinua nas minhas palavras um ridículo irresistível, mas vivo a confessar que o ridículo é uma das minhas dimensões mais válidas.
HP: Sou um home de muitos amores –isto é, de muitos interesses – e para tão longos amores, tão curta é a vida. Não há ninguém que consiga, no tempo de uma vida, esgotar todas as suas possibilidades. Se me fossem dadas outras e outras vidas, gostaria de ser: a) filósofo profissional; b) romancista; c) marido de Clarice Lispector, a quem me dedicaria com veludosa e insone dedicação; d) chofer de caminhão; e) morador de Resende, apaixonado por uma moça triste, debruçada à janela de uma casa, saída de um quadro de Volpi; f) seresteiro, poeta, cantor, com a música de Chico Buarque.
VM: [...] Meu pai também tocava violão, cresci ouvindo musica. Depois a poesia fez o resto.
Fizemos uma pausa. Ele continuou:
VM: Tenho tanta ternura pela sua mão queimada...
(Emocionei-me e entendi que este homem envolve uma mulher de carinho.) Vinícius disse, tomando um gole de uísque:
VM: E curioso, a alegria não é um sentimento nem uma atmosfera de vida nada criadora. Eu só sei criar na dor e na tristeza, mesmo que as coisas que resultem sejam alegres. [...]
MB: O que te levou à literatura, ou melhor, ou que te levou à escrever? Minha resposta é igual à que você daria. É aquela mania de ficar procurando como se dizer melhor o que se precisa dizer.
O desenho foi feito pela querida Louise Forbes.
O Pellegrino é um gênio: toda pessoa que quer ser filósofo profissional TEM que querer também ser chofer de caminhão.
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